Um Copo de Veneno, é o novo álbum da cantora e atriz Cida Moreira. O álbum é trilha sonora de um programa de dez capítulos dirigido por Murilo Alvesso e uma grande e jovem equipe, estrelada por Cida Moreira. O programa veiculado pelo Canal Brasil, tendo depois sua trilha musical quase completa masterizada por José Pedro Selistre é lançada agora no seu formato final pela produtora e gravadora Kuarup. A cantora aguarda o momento de estrear como show, com todo o requinte do projeto original.

“Um copo de veneno, uma reflexão, uma crítica poética com forte viés político e artístico, uma criação libertária, uma ousadia assumida nos tempos atuais. Um copo de veneno para beber num longo gole até o fundo do mesmo copo” declara Cida Moreira neste novembro de 2020 pandêmico.

Ordem das músicas

Um Copo de Veneno – Uma Aventura Libertária

01 – Singapura – Eduardo Dussek

02 – Avisa – Tato

03 – Private Dancer – Mark Knoppler

04 – O Verbo e a Verba – Lenine e Lula Queiroga/Money – Mamonas

Assassinas

05 – Efêmera – Tulipa Ruiz

06 – Prezadíssimos Ouvintes – Itamar Assumpção

07 – Você me Vira a cabeça – Paulo Sérgio Valle e Chico Roque

08 – Young and Beautiful – Lana Del Rey, Rick Nowels e Baz Luhrmann

09 – Floradas do Amor – Douglas Germano e Kiko Dinucci

10 – Marcha Macia – Siba

11 – Eu Sou a Diva – André Vieira, Leandro Pardal e Wallace Vianna

12 – La Bala – Rene Perez, Eduardo Cabra e Rafael Ignacio Arcaut. Versão

– Murilo Alvesso

 

Faixa a faixa

Singapura: quando concebemos a ideia de um cabaré audiovisual sem melindres, a fábula da cantora medíocre Singapura já tinha perfeita interpretação na voz de Cida Moreira em 1983. Mesmo assim, essa foi a única canção que eu fiz questão que fosse reencenada para o episódio A Voz, em que acompanhamos o apogeu e queda de uma diva da MPB. A narrativa ácida e brechtiana de Dussek coube perfeitamente no tablado de Um Copo de Veneno e a faixa foi única a ser gravada no Rhodes, evocando o tempo e o espaço da crooner que atende a pedidos na churrascaria.

Avisa: nesse projeto uma das nossas missões era dar luz à beleza e à poética das palavras nas canções. Em Avisa ouvimos o desabafo de uma artista no momento de o espetáculo deixar a cidade. Acho muito bonito que esse desabafo venha através de um forró de muito sucesso popular, que transformamos em balada. A crueza que a Cida Moreira alcançou nessa mensagem emocionou a todos no momento da gravação, e traz uma reflexão muito sincera sobre o momento de partir.

Private Dancer:  a figura da prostituta no teatro fascina tanto à Cida quanto a mim, Jehnny, Geni e tantas outras potências femininas que marcam a dramaturgia do mundo. Fomos buscar no repertório dançante da Tina Turner a melancolia de uma dama de cabaré que sonha com uma vida normal. Ao piano, esse lamento ganha outras conotações ao refletir a submissão de uma mulher às normas e ferramentas do Mundo dos Homens.

O Verbo e a Verba/Money (1406): a tragédia entre o Verbo a Verba, obra do mestre Lenine se fundiram ao refrão genial dos Mamonas Assassinas como metonímia do dilema do artista brasileiro. A luta entre a poesia e o bom cachê, a maratona dos editais, o acúmulo dos boletos e o desmonte elaborado da cultura no país estão por trás desse relato farsesco.

Efêmera: a letargia das tardes de domingo e seus programas televisivos está no clima dessa versão, que ralenta diante dos fatos que se sucedem. A interpretação parte da sequência de catástrofes políticas no Brasil dos últimos anos como pano de fundo, ao passo que o senso comum se posiciona na inércia.

Prezadíssimos Ouvintes: na canção que celebra a chegada de um projeto tão às avessas quanto Um Copo de Veneno à TV, queríamos homenagear o grande Itamar Assumpção. Tanto Cida quanto ele foram muito enquadrados sob a pecha de malditos, ao longo dos anos, justamente por serem o que havia de vivo e atento em meio aos enlatados e às posturas padronizadas. Os dois artistas são símbolos da vanguarda de São Paulo, interseccionando-se no tempo, a exemplo de Às Próprias Custas S/A e Summertime que foram gravados no Teatro Lira Paulistana em 1981.

 

Você Me Vira a Cabeça: o melodrama é o tônus da interpretação bem humorada desse clássico eternizado pela cantora Alcione. A figura da mulher abandonada pelo homem após uma briga vem à tona no arranjo voz e piano que remete a um telefonema desesperado. A dependência efetiva de uma mulher mais velha e a ausência do parceiro jovem e vigoroso, que são pontos de partida para personagens com Joana, em Gota D’Água, e Neusa Sueli, em Navalha na Carne, foram nossas inspirações.

Young And Beautiful: essa canção melancólica de Lana Del Rey ganha em Um Copo de Veneno um tom ainda mais soturno, na voz de uma figura apega à imagem de um distante passado promissor. É no devaneio de personagens como Norma Desmond e Baby Jane Hudson que nos espelhamos para esse número que põe lupa na exigência de eterna juventude que cerca as mulheres.

Floradas de Amor: a fatia dominatrix de Cida Moreira domina o piano nessa canção que coube perfeitamente nesse cabaré. Na contramão das tendências de violência doméstica do Brasil, aqui Kiko Dinucci e Douglas Germano oferecem uma surra de flores.

Marcha Macia: a música Marcha Macia foi a primeira melodia escolhida para esse projeto. Siba soube traduzir o sentimento de todos nós no momento em que as movimentações sombrias tomaram vulto no Brasil. Gravada em dezembro de 2015, infelizmente foi profética e se torna mais atual a cada dia. O recado foi dado, e nós nos incluímos nessa marcha.

Eu Sou a Diva Que Você Quer Copiar: Um Copo de Veneno é exatamente sobre a liberdade de poder interpretar Brecht ao lado de Valesca Popozuda. As expressões artísticas são livres, e jogando fora as amarras de gênero foi possível criar esse coquetel de personagens contundentes e divertidos personificados pela Cida Moreira.

La Bala: originalmente um rap do duo Calle 13, de Porto Rico, A Bala (La Bala) é uma epopeia sobre a cultura armamentista que cabe perfeitamente no Brasil de 2020 Na figura da morte, Cida Moreira apresenta uma narrativa de tirar o fôlego que dá conta da mazela diária das nossas comunidades, diante do militarismo e da guerra às drogas.

Sobre Cida Moreira

Cantora e pianista paulista, começou sua carreira na década de 70, trabalhando em teatro e musicais. O primeiro disco Summertime, gravado ao vivo, foi lançado em 1981 com clássicos do blues e do jazz norte-americano, além da versão censurada de Geni, de Chico Buarque. Desde então gravou outros CDs, alguns dedicados a compositores, como Cida Moreira Interpreta Brecht e Cida Canta Chico Buarque, disco de 1993, interpretando uma seleção de canções do compositor que incluiu Morte e Vida Severina, Soneto e Suburbano Coração entre outras. 

Músicas

  1. Singapura

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Eduardo Dussek

  2. Avisa

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Tato

  3. Private Dancer

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Mark Knoppler

  4. O Verbo e a Verba

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Lenine, Luiz Queiroga

  5. Efêmera

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Gustavo Ruiz, Tulipa Ruiz

  6. Prezadíssimos Ouvintes

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Domingos Pellegrini, Itamar Assumpção

  7. Você Me Vira a Cabeça

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Chico Roque, Paulo Sérgio Valle, Zenith

  8. Floradas de Amor

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Douglas Germano, Kiko Dinucci

  9. Marcha Macia

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Siba

  10. Eu Sou a Diva Que Você Quer Copiar

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: André Vieira, Leandro Pardal, Wallace Vianna

  11. A Bala (La Bala)

    Intérprete: Cida Moreira Autoria: Eduardo Cabral, Murilo Alvesso, Rafael Ignacio Arcaut, Rene Perez