
The Fisherman
Gênero: InstrumentalO baterista e percussionista gaúcho Humberto Zigler lança The Fisherman, seu primeiro trabalho solo. O projeto nasceu da necessidade de traduzir as experiências com as múltiplas linguagens vivenciadas ao longo de sua carreira. Vindo de uma família de pescadores, o músico começou a se apaixonar pelos ritmos ainda na juventude, tocando nas latas de tintas da oficina mecânica onde trabalhava. Das pescarias noturnas na infância, das bandas de baile até as apresentações em festivais na Europa, passaram-se mais de 40 anos e 30 de carreira. Ao dividir o palco por muito tempo com sambistas e músicos de New Orleans, nos Estados Unidos, Humberto vislumbrou uma conexão primordial com sua ancestralidade nos tambores primitivos da África. Iniciou assim a sua pesquisa a partir das músicas originárias do oeste africano e suas ramificações pelo mundo, identificando elementos que estão na base tanto da música tradicional brasileira – o maxixe, o ijexá e o maculelê – quanto nas músicas tradicionais de New Orleans – o second line e o mardi gras.
A partir de um repertório que já vinha sendo apresentado parcialmente em alguns workshops e oficinas, Humberto Zigler resolveu registrar sua pesquisa também em um álbum. Em 2018 realizou a pré-produção do trabalho, que definiu o repertório final, iniciando uma série de ensaios com dois núcleos fixos de músicos. O processo de gravação do CD foi realizado em duas fases. A primeira delas, em julho de 2019, no Estúdio Space Blues em São Paulo, onde foram trabalhadas quatro das dez músicas que compõem o repertório. Entre elas, está a releitura do clássico O Cio da Terra, composição de Milton Nascimento e Chico Buarque, que contou com uma instrumentação para violoncelo e sax barítono além do encontro da viola caipira de Ricardo Vignini e do piano erudito de Daniel Grajew. Já, na composição Pescador, do próprio Humberto Zigler, foi o canto das lavadeiras que se fundiu ao jogo do berimbau.
A segunda fase foi realizada em seguida, no Estúdio C4 (São Paulo), quando foram gravadas as músicas restantes. A composição Saci, de Humberto Zigler, teve a participação dos percussionistas Rodrigo Pirituba e Thiaguinho Silva, incorporando a tradição da família do mestre Robertinho Silva. I Ain’t My Fault, do baterista Smokey Johnson e Wardell Joseph Quezergue, fez o casamento de dois ritmos: o second line e o samba e contou com a participação de Tom Worrell, considerado um dos principais pianistas de New Orleans. A faixa Pangeia, de Daniel Grajew, construiu a ponte entre o nosso maculelê e os ritmos do Maghreb, do oeste africano, destacado pelo percussionista Vinicius Barros, que trouxe uma sonoridade tipicamente marroquina tocando o karcabol. The Fisherman, disco lançado em formato físico e digital pela produtora e gravadora Kuarup, conta com a participação de 17 músicos, além de Humberto Zigler, que também é responsável pela produção executiva e musical.
Faixa e faixa
Saci (Humberto Zigler): composição que traz a força da cultura indígena em sua melodia, apoiada nos ritmos do ijexá e fundamentada na música de John Coltrane, presente nos improvisos jazzísticos do sax barítono de Denilson Martins. Foi inspirada na base rítmica do berimbau e transposta para a guitarra, tocada com slide, por Léo Duarte. A música de abertura do disco ganha potência com a presença marcante das percussões e traduz a exuberância do folclore brasileiro.
It Ain’t My Fault (Joseph “Smokey” Johnson e Wardell J. Quezergue): este clássico de New Orleans ganha uma roupagem atual e se mistura ao samba. A cuíca, tocada por Rodrigo Pirituba, dialoga com o lendário piano de Tom Worrel, proporcionando um balanço tão contagiante que certamente não deixará ninguém parado.
Pangeia (Daniel Grajew): a força do maculelê e dos ritmos do Maghreb se unem ao teclado moderno de Jonas Dantas, criando um tema que proporciona uma viagem por paisagens distantes e separadas pelo oceano e pelo tempo. “Pan”, palavra grega que se traduz por todo ou inteiro e “geia” ou “gea” (Gaia), que significa terra, compõem o título desta música que nos traz o conceito de unidade primordial.
Pescador (Humberto Zigler): o jogo da capoeira conduz a abertura desta música, que nos surpreende por sua intensidade tanto nas vozes que se multiplicam, quanto no piano ritmado pelo carimbó de Jonas Dantas, atirando-nos em ondas de um mar selvagem e ancestral, que remete ao canto das lavadeiras e à obra singular de Dorival Caymmi. Os versos desta música são um chamado para todo aquele que se arrisca nos mistérios profundos da vida.
Tacho (Hermeto Pascoal): a composição do genial Hermeto Pascoal ganha uma nova introdução com a música incidental Chamada de Aricury, presente na obra Missão de Pesquisas Folclóricas, de Mario de Andrade. A percussão polifônica de Vinicius Barros faz o contraponto perfeito com o baixo percussivo de Joseph Oliveira, amalgamado pela bateria forte e precisa de Humberto Zigler. Um verdadeiro agradecimento a dois dos principais alicerces da cultura brasileira. Viva Mário! Viva Hermeto!
Trem da Vida (Humberto Zigler): a interpretação da cantora Maria Alvim nos mantém em suspensão, com a sensação de caminhar sobre nuvens, tornando esta música ainda mais delicada. A roupagem jazzística, com piano, baixo acústico e bateria, conduz a canção com sutileza e nos leva a refletir sobre esse sublime momento que é o nascimento de um filho.
Cio Da Terra (Milton Nascimento e Chico Buarque): esta música, que também foi eternizada nas vozes de Pena Branca & Xavantinho, tem um arranjo riquíssimo que passeia nas raízes da música latino-americana. A introdução de viola caipira, tocada de forma inusitada pelo grande violeiro Ricardo Vignini, encontra o violoncelo que faz a ponte com o piano erudito. A faixa se amplifica, ganhando vigor e dramaticidade e nos remetendo a um encontro titânico entre Heitor Villa-Lobos e Astor Piazzola.
Zumbi (Jonas Dantas): gravada com uma formação em trio, a música nos leva para uma atmosfera dos improvisos de jazz, onde piano, baixo e bateria dialogam buscando conquistar novas paisagens sonoras, remetendo aos trios de jazz dos anos sessenta, quando as composições conquistaram uma maior liberdade.
Yeah, You’re Right (Joseph Modeliste, George Porter, Art Neville,
Leo Nocentelli): releitura da música, tocada pelo lendário grupo de funk The Meters, que coloca em cena o organ hammond de Luciano Leães e o balanço das percussões de Thiaguinho Silva, Rodrigo Pirituba e Humberto Zigler. Por coincidência (ou não), foi gravada justamente no dia da morte de Art Neville, fundador do grupo The Meters e grande músico de New Orleans, que já foi ganhador de três prêmios GRAMMY e tocou com artistas como Paul McCartney e Dr. John entre outros. Yeah, You’re Right é uma faixa cheia de suingue e alegria, que traz o tempero do verdadeiro funk presente nas pistas de dança dos anos setenta.
Tao (Humberto Zigler): este solo de bateria, inspirado nas percussões do oeste africano, foi concebido sob a ideia do Tao, onde se unem as forças opostas da natureza: criação e destruição, guerra e paz, nascimento e morte. Ele diz desse mistério que age através dos tempos e para além do tempo. Tao encerra o disco com um instigante final que se liga ao início da primeira música, fechando um ciclo que se renova a cada audição.
Sobre Humberto Zigler
Com 30 anos de carreira o músico Humberto Zigler é um dos bateristas mais requisitados de São Paulo. Nascido no Rio Grande do Sul e vindo de uma família de pescadores, conheceu a música por meio dos tios e não tardou a se tornar um apaixonado pelos ritmos. Logo passou a tocar na noite de Florianópolis, em bandas de baile e grupos de samba. Na mesma época, aperfeiçoou-se na bateria com o mestre Kiko Freitas. Em 1999, fixou residência em São Paulo e trabalhou como professor em várias ONGs e no projeto Guri, da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. Ao longo dos anos, desenvolveu as mais diversas linguagens musicais em inúmeras gravações e shows. Na música brasileira, já tocou com artistas como: Ângela Maria e Cauby Peixoto, Arlindo Cruz e Sombrinha, Alaíde Costa, Patricia Marx, Carlos Navas, Daniel Grajew, Claudette Soares, Claudia Telles e Fafá de Belém. Com a cantora Mafalda Minnozzi, além das apresentações, gravou o DVD Live in Itália. Com Corina Magalhães, gravou o álbum Tem Mineira no Samba, indicado para o Latin GRAMMY 2016 na categoria Melhor Álbum de Samba/Pagode. Em 2020, gravou com Túia e Elba Ramalho a canção Céu e participou do álbum de Juca Novaes. No cenário do rock pop nacional tocou com O Terço, Sérgio Hinds, Rainer Pappon, Daniel Daibem, Marcio Tucunduva, Folk na Kombi. Humberto também tem grande atuação no cenário do blues. Gravou e acompanhou nomes como J.J. Jackson, Nuno Mindelis, Marcos Ottaviano, Sérgio Duarte, Celso Salim, Bia Marchese, Flávio Guimarães, Igor Prado, Amleto Barboni, Tritono Blues, André Youssef, Filippe Dias, Blues Beatles, Steve Guyger, Sax Gordon, Curtis Salgado, Kenny Brown, Gary Brown, Deacon Jones, Andy Just (Ford Blues Band) e Marty Sammon entre outros. Já marcou presença nos principais festivais de blues do país e se apresentou na Itália, Croácia, Hungria, Romênia, Eslovênia, Áustria, Angola e Portugal.
Músicas
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Saci
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Humberto Zigler
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It Ain't My Fault
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Joseph Smokey Jonhson, Wardell Joseph Quezerque
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Pangeia
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Daniel Grajew
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Pescador
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Humberto Zigler Participações: Felipe Camara, Maria Alvim
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Tacho
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Hermeto Pascoal
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Trem da Vida
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Humberto Zigler Participações: Maria Alvim
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O Cio da Terra
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Chico Buarque, Milton Nascimento
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Zumbi
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Jonas Dantas
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Yeah, You're Right
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Art Neville, George Porter, Joseph Modeliste, Leo Nocentell
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Tao
Intérprete: Humberto Zigler Autoria: Humberto Zigler