Já está disponível nas plataformas digitais o álbum O Berrante Pantaneiro, disco do músico Milton Guapo em parceria com a Orquestra de Matogrosso, lançado pela produtora e gravadora Kuarup. O artista declara que após mais de 35 anos de pesquisa da música mato-grossense, em especial a da Baixada Cuiabana e do Pantanal, certo dia sentiu uma vibração que mais parecia o eco de um cânone das escalas e modos que ouvia quando criança. Nesse mesmo “insight” ainda se insinuavam restos de canções que havia largado, sem concluir, e a figura e o som do berrante de “seo” Chico. Via nesta figura a saga da comitiva onde atuou durante a maior parte de sua vida e se viu transportado para a velha fazenda Corredeira em Cáceres (MT), onde aprendeu a lida com o gado pantaneiro junto à família de “seo” Tino Leal. Nesse mergulho transcendental onde a realidade, a nostalgia e a candura do sentir elevam a alma à plenitude é que compôs a Sinfonia Leitmotiv em quatro movimentos, O Berrante Pantaneiro, dedicada ao Sr. Manoel Francisco da Silva (Chico do Berrante). Mesmo com as facilidades do mundo contemporâneo, com celulares e laptops à vontade, a comunicação feita por berrantes, que remonta aos primórdios da civilização ocidental, continua ainda hoje a melhor forma de se comunicar no trabalho da Comitiva. O som gracioso e harmônico do berrante, o inspirou para a criação desta sinfonia, há muito tempo faz parte da lida do gado no pantanal, tendo se amalgamado a existência do homem pantaneiro, tornando-se a trilha sonora do seu dia a dia juntamente com os grunhidos dos bichos. Neste álbum está também o poema sinfônico Dança Fantástica da Chapada que compôs numa noite na cidade de Chapada dos Guimarães no começo dos anos 90. Havia nessa época muitos acontecimentos na região: morte súbita de amigos, novas descobertas de sítios arqueológicos, contato com OVNIs e outros. Esse tema foi coreografado nessa mesma época pelo bailarino Paulo Medina e depois gravado no álbum Pantanal Branco e Preto, com novo arranjo de sua autoria e orquestração do músico Ítalo Perón. A música ganhou um brilho especial com a regência do maestro Leandro Carvalho e a Orquestra do Estado de Mato Grosso. Quanto ao último tema, Remansos (Suíte Para Violão Solo) foi trilha composta para o vídeo Baile Pantaneiro do cineasta Amauri Tangará e que levou o melhor tratamento com o toque do exímio violonista Bruno Pizaneschi. 

A sinfonia Berrante Pantaneiro apresenta quatro movimentos inspirados em toques característicos do instrumento: Toque de Debandada (primeiro toque da madrugada, estimula a boiada a andar); Toque de Agradecimento (gratidão ao fazendeiro que permitiu a pernoite do gado e peões em suas terras, ou porque comprou o gado e está levando para outro lugar, ou ainda, um toque tradicional para o gado não emagrecer); Toque Aviso de Perigo (alerta os peões e distrai a

boiada para o perigo eminente de onça, cobra ou enxame de abelhas); Toque Pasto, Sombra e Água Fresca (quando o ponteiro – peão que segue na frente dos bois – encontra um pasto bom para descansar ou pernoitar. O toque convence o gado a parar). Berrante Pantaneiro foi escrita em 2002 e gravada no ano de 2010, inspirada nos diferentes toques de berrante – uma espécie de buzina feita de cornos de animais, eficaz na orientação, defesa e comando do gado, instrumento muito utilizado por vaqueiros para conduzir a boiada e se comunicar à distância nos pastos do Brasil. A responsabilidade de empunhar o berrante em meio a violinos, violas, violoncelos, contrabaixo e percussão fica a cargo de um dos mais folclóricos tocadores do instrumento, o cacerense e ex-peão Chico do Berrante. “O Chico possui o maior berrante do mundo, com 1,65 metros de comprimento e 50 cm de boca. Já foi duas vezes campeão do concurso de berrante em Barretos, a maior festa de peão do Brasil”, diz Milton Guapo. O berrante é um instrumento de sopro de grande e médio porte, dotado de escalas e tonalidades distintas, capaz de emitir códigos de comunicação com os animais e entre os peões, como o toque de abertura da porteira, retirada da querência, balanço da boiada, aviso de encruzilhada, dentre outros. “Tem também o toque de pastoreio, que significa a sequência da viagem, pondo o gado no estradão novamente. Mas, o bonito mesmo é o fim da jornada, o toque de debandada, que indica que os vaqueiros vão voltar para casa depois do trabalho cumprido”, explica Chico do Berrante.

Sobre as Músicas

I – Dança Fantástica da Chapada – Poema Sinfônico

Conotação descritiva e abstrata de Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, com sua beleza, seus mistérios, sensualidade e misticismo. O cânone desta música mostra uma sombra melódica onde a harmonia se transforma em melodia e vice-versa, como se houvesse uma intersecção da realidade e de outra dimensão. No final, tudo se funde no som de um disco voador.

II – O Berrante Pantaneiro – Sinfonia Leitmotiv em 4 movimentos

1º – Debandada

Amanhece e o berrante toca para a comitiva sair campo afora. Trote, poeira e gritos dos vaqueiros entrelaçam e a boiada toma rumo no comando do peão ponteiro.

2º – Agradecimento

Já distante da fazenda, o berranteiro toca agradecendo ao fazendeiro pelo bom negócio da venda do gado ou pela cortesia do pernoite em seu campo.

3º – Cuidado! Perigo Espreita

A comitiva caminha uniformemente quando o berrante do ponteiro toca para avisar que uma onça, cobra, enxame de abelha ou outro tipo de perigo qualquer está por perto e pode fazer o gado estourar. Nesse momento, os estalos de rebenques e os trotes rápidos se mobilizam para que a boiada não perceba o perigo. Logo adiante, o perigo passa e a comitiva volta a caminhar uniformemente.

4º – Pasto, Sombra e Água Fresca

Ao avistar um corixo (braço de rio), uma boa sombra e um bom pasto, o berrante do ponteiro toca para parar o gado. É hora de “matular” (comer), beber e descansar um pouco, tanto os peões quanto o gado. Se for no entardecer, prepara-se para acampar no lugar. Nessa hora que o violão, a viola de cocho e o ganzá tocam rasqueados, chamamés, siriris e cururus, e os peões cantam para

distraírem-se.

III – Remansos – Suíte Folclórica

Suíte de reminiscências da musicalidade platina em forma livre, mostrando o gorjeio de pássaros no amanhecer e a fragrância da quietude dos remansos dos corixos no palpitar da vida na beira do grande Rio Paraguai.

Sobre Milton Guapo

Nascido em 1951 em Cáceres, no estado de Mato Grosso, Milton Pereira de Pinho Guapo é filho de pai violeiro e tio cantor, que se expressava em várias línguas como o português, espanhol e guarani. Sua avó paterna, Yolanda Widal de Pinho, era pianista, seu avô materno, Zacarias Pereira de Lima era cururueiro (violeiro folclórico). Guapo teve uma educação musical bem colocada pelo pai professor, matemático e físico, que considerava importante educar os ouvidos com todo tipo de música, para distinguir a qualidade. A vivência no Pantanal somada a riqueza sonora de sons de pássaros e animais, bem como o meio popular, bailes, festas de santo e outros festejos populares, influenciaram Guapo.

De sua mãe, Maria de Lima Pinho, lavadeira ribeirinha, herdou e aprimorou o gosto popular pelas lendas e mitos ribeirinhos. A mistura da influência paterna e materna provocou o vivo interesse pela ciência e pela sensibilidade do conhecimento empírico popular, que lhe suscitou o jeito autodidata de músico e pesquisador. Com 18 anos começou a tocar violão e nunca mais largou. Depois viveu em Goiânia e no Rio de Janeiro onde pesquisou o samba no Morro do Estácio. Em 1976, mudou-se para São Paulo e tornou-se funcionário da extinta Fepasa – Ferrovia Paulista S/A. Conheceu a música sertaneja de raízes e nas férias de trabalho pesquisou a música latino-americana, buscando as raízes dos rasqueados mato-grossense, viajando pelo Paraguai, Argentina e Bolívia. Em 1985, já em Cuiabá, uniu seus conhecimentos com Vera Bagetti, Zuleica Arruda e Marques Caraí, nascendo daí a ideologia musical Vanguarda Nativista. Depois de representar Mato Grosso em várias partes do país e fora, em 1994 suas músicas Canto Guacho e Velho Chamame foram trilhas musicais do seriado A Lenda, da extinta TV Manchete, dirigida por Marcos Schechtman (hoje diretor na Rede Globo). Em 1996 grava seu primeiro disco Pantanal Branco e Preto. Em 2000 grava o segundo álbum chamado Resto de Guarânia. Foi compositor de várias trilhas musicais para cinema como: Animando o Pantanal pelo Núcleo de Cinema de Campinas-SP, premiado na China no Festival Anima Mundi em 1990. Também fez trilha para os filmes Rondon o Último dos Bandeirantes’ Baile Pantaneiro, Divisão de Mato Grosso e O Poeta Silva Freire dentre outros. É autor do livro Remedeia com que tem, um mapeamento histórico musical da composição matogrossense. Idealizou e coordenou o projeto Rua do Rasqueado que resgata a dança popular mato-grossense. Foi o primeiro músico mato-grossense a representar o estado no evento Mato Grosso States Cultural, realizado em novembro de 2005, em Washington-DC, capital americana, com o show-recital Searching For The Lost River, fechando a quinzena cultural de Mato Grosso nos Estados Unidos.

Sobre Orquestra do Estado de Mato Grosso

Criada em 2005, no coração da América Latina, a Orquestra do Estado de Mato Grosso valoriza a cultura mato-grossense em diálogo com a música universal, definindo uma sonoridade singular, com repertórios e timbres únicos. Em pouco mais de uma década de atuação, a Orquestra de Mato Grosso realizou mais de 600 apresentações em todo o Brasil. Concertos gratuitos ou a preços populares, para um público anual de aproximadamente 100 mil pessoas. Em Mato Grosso, as apresentações da OEMT chegaram a 24 municípios. Pelo Brasil, são mais de 110 concertos em 22 estados brasileiros de todas as regiões, contemplando mais de 100 cidades de todo o país. Em 11 temporadas, apresentou 97 programas diferentes (repertórios), incluindo mais de uma centena de composições fundamentais da literatura universal, além de composições e arranjos encomendados especialmente para o grupo. Aqui vale destacar Concerto Para Viola de Cocho e Orquestra, escrita especialmente para Orquestra do Estado de Mato Grosso por Ernst Mahle; o grupo de composições baseado nos 26 prelúdios fundamentais do mineiro Flausino Vale; Festa da Santidade, peça em seis movimentos escrita por Danilo Guanais; Concerto de Fronteira, escrita para OEMT por Yamandu Costa, com quem gravou um disco lançado pela Kuarup. Já gravou quatro DVDs, 16 discos (ainda seis a serem lançados), recebeu 11 maestros de prestígio internacional, 43 solistas convidados, atendeu mais de 320 instituições de ensino da rede pública e privada de Cuiabá, Várzea Grande, Nobres e Diamantino, pela série de Concertos Didáticos. Em 2009, foi finalista do XII Prêmio Carlos Gomes de Ópera e Música Erudita, a mais importante premiação do gênero. A OEMT está sobe a direção artística e regência de um dos maiores talentos brasileiros da atualidade, o maestro Leandro Carvalho, reconhecido em 2008 pelo Anuário Viva Música (a mais importante publicação do ramo) como uma das dez personalidades de maior importância da década, na música de concerto. Em 2014 a OEMT foi convidada a apresentar seu case de sucesso num dos mais relevantes encontros do setor, o Classical Next, realizado em Viena, na Áustria e em 2006, a Orquestra foi convidada a participar, na Bolívia, do mais importante festival de música barroca e renascentista do mundo, o VI Festival Internacional Misiones de Chiquitos. Sua trajetória foi destaque no Transform Orchestra Leadership (TOL), conferência internacional que reúne importantes profissionais do setor orquestral. A Orquestra do Estado de Mato Grosso integra a política cultural do governo do Estado de Mato Grosso, sendo reconhecida pelo Decreto Governamental n. 415, de 05 de julho de 2007, como Organização Social da Cultura e pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.

Sobre Leandro Carvalho, regente principal e diretor artístico da OEMT

Conhecido por sua vitalidade e abordagem singular de ampla variedade de repertórios, Leandro Carvalho é considerado um dos mais proeminentes maestros brasileiros da nova geração. Apontado como um dos dez artistas de maior importância na última década na música de orquestra no Brasil pela revista Viva Música!, uma das principais publicações do setor, Leandro é um dos fundadores da Orquestra do Estado de Mato Grosso. Em 2013 e 2014 fez residência artística (conducting fellowship) na prestigiada Philadelphia Orchestra, nos Estados Unidos, e de 2011 a 2013 foi regente assistente na Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro, quando teve a oportunidade de dirigir concertos com grandes solistas como Daniil Trifonov, Simone Dinnerstein, Lenine e Gilberto Gil. Com a Orquestra de Mato Grosso, de 2005 a 2016, sob sua direção, foram apresentados mais de 600 concertos, distribuídos em diferentes séries, em diversos municípios de Mato Grosso e do Brasil, com destaque para duas grandes turnês realizadas em 2008 quando a OEMT apresentou 162 concertos em 92 cidades de 22 estados brasileiros. Com a OEMT, Leandro Carvalho gravou 15 discos e quatro DVDs com obras inéditas e de compositores consagrados, também com grandes instrumentistas como Yamandu Costa, Turibio Santos, Antonio Del Claro, Emmanuele Baldini, Roberto Correa, Pablo Agri, Carlos Corrales, Ivan Vilela e Renato Teixeira entre outros. Leandro Carvalho graduou-se em Música Erudita em São Paulo, fez pós-graduação em Regência Orquestral na Holanda e na Järvi Academy, na Estônia. Participou de festivais, na classe de regência, na Inglaterra e no Brasil (Campos do Jordão) e de master classes com os maestros Valery Gergiev e Kurt Masur. Nos Estados Unidos, desenvolveu-se como regente sob a orientação de Leonid Grin. Como instrumentista gravou nove CDs, lançados no Brasil e exterior com destaque para os duos com Turíbio Santos e Baden Powell. Seu trabalho como pesquisador apresenta uma visão singular da cultura brasileira, sintetizada na dissertação de mestrado “… e o estrepitoso zabumba põe tudo em alvoroço”, elaborada com a orientação do escritor Ariano Suassuna e apresentada no departamento de pós-graduação em História Social da Universidade Federal de Pernambuco. Leandro Carvalho foi finalista da “Svetlanov International Conducting Competition” em Paris, com a ‘Orchestre Philharmonique de Radio France’, em junho de 2014. Foi Secretário de Cultura do Estado de Mato Grosso. 

Sobre a Kuarup

Especializada em música brasileira de alta qualidade, o seu acervo concentra a maior coleção de Villa-Lobos em catálogo no país, além dos principais e mais importantes trabalhos de choro, música nordestina, caipira e sertaneja, MPB, samba e música instrumental em geral, com artistas como Baden Powell, Renato Teixeira, Ney Matogrosso, Wagner Tiso, Rolando Boldrin, Paulo Moura, Raphael Rabello, Geraldo Azevedo, Vital Farias, Elomar, Pena Branca & Xavantinho e Arthur Moreira Lima, entre outros.

Músicas

  1. Dança Fantástica da Chapada: Poema Sinfônico

    Intérprete: Guapo, Leandro Carvalho, Orquestra do Estado de Mato Grosso Autoria: Milton Pereira de Pinho "Guapo"

  2. Sinfonia O Berrante Pantaneiro: I. Movimento "Debandada"

    Intérprete: Guapo, Leandro Carvalho, Orquestra do Estado de Mato Grosso Autoria: Milton Pereira de Pinho "Guapo" Participações: Chico do Berrante

  3. Sinfonia O Berrante Pantaneiro: II. Movimento "Agradecimento"

    Intérprete: Guapo, Leandro Carvalho, Orquestra do Estado de Mato Grosso Autoria: Milton Pereira de Pinho "Guapo" Participações: Chico do Berrante

  4. Sinfonia O Berrante Pantaneiro: III. Movimento "Cuidado! Perigo Espreita"

    Intérprete: Guapo, Leandro Carvalho, Orquestra do Estado de Mato Grosso Autoria: Milton Pereira de Pinho "Guapo" Participações: Chico do Berrante

  5. Sinfonia O Berrante Pantaneiro: IV. Movimento "Pasto, Sombra e Água Fresca"

    Intérprete: Guapo, Leandro Carvalho, Orquestra do Estado de Mato Grosso Autoria: Milton Pereira de Pinho "Guapo" Participações: Chico do Berrante

  6. Remansos: Suíte Folclórica

    Intérprete: Guapo, Leandro Carvalho, Orquestra do Estado de Mato Grosso Autoria: Milton Pereira de Pinho "Guapo" Participações: Bruno Pizaneschi