Meu Segredo

Acumulando na bagagem mais de sessenta anos de carreira, o baterista e compositor gaúcho Mutinho (Lupicinio Morais Rodrigues) lança o seu disco de estreia, Meu Segredo. O trabalho sintetiza a trajetória musical do artista, que trabalhou ao lado de Elis Regina, Nara Leão, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Chico Buarque, Toquinho e Vinicius de Moraes. O álbum, que tem lançamento no dia 1º de setembro (sexta-feira), já está disponível em todas as plataformas digitais. 

O disco, que recebe as participações especiais de Toquinho, Miúcha e Georgiana de Moraes (filha de Vinícius e percussionista da temporada do show Tom, Vinicius, Toquinho e Miucha, entre 1977 e 1978), conta com 15 faixas, entre inéditas e releituras, além de primoroso trabalho de capa feito pelo artista plástico Elifas Andreato. O disco começa com Até Rolar Pelo Chão, uma das primeiras parcerias entre Mutinho e Vinicius de Moraes, composta entre as turnês que fizeram pelo país nos anos 70. A música foi lançada no LP de Toquinho e Vinicius, Um Pouco de Ilusão, (de 1980, onde outra canção sua abria o disco, Escravo da Alegria, desta vez em parceria com Toquinho).

Em seguida, uma canção inédita com Vinicius de Moraes, composta em homenagem a Lupicínio Rodrigues, tio de Mutinho. Acalanto Para Embalar Lupicínio surgiu depois de que o cantor e compositor recebeu a notícia de falecimento de seu tio. Subiu para o hotel, pegou o violão e fez uma emocionada melodia que ganhou uma sensível letra do Poetinha.

A faixa-título, Meu Segredo, foi a que selou a parceria com Toquinho numa história apaixonada, inspirada em relato de uma amiga em comum. “Levamos a canção ao quarto de Vinícius de Moraes para mostrar a ele ‘a primeira traição’ de Toquinho (era a primeira vez que Toquinho ‘rompia a fidelidade do casamento’ com Vinicius e compunha com outra pessoa). Ele aprovou a traição com honras. Curiosamente sendo esta a primeira parceria, jamais gravamos essa canção, que permanecia inédita até agora”, conta Mutinho.

“Seja mais um amigo que vai a cidade alegrar”, pensou João Palmeiro, ao ouvir a melodia da marcha-rancho dolente e melancólica de O Rancho Convida. Ele visualizou uma multidão abraçando a letra e convidando todos a se juntarem à canção, que é uma visão poética dos cordões carnavalescos de antigamente.

Com sensibilidade, Sem Saída é outra parceria com Toquinho que relata um desencontro amoroso. A canção faz parte do álbum Coisas do Coração, de Toquinho, lançado em 1986.

Valsa dos Músicos (Uma Só Família) passou muito tempo guardada. “Eu sempre a mostrava aos amigos músicos e era naturalmente elogiado por todos, quem sabe daí o nome da valsa, hino de nossa turnê do Canecão e da Europa entre 1977 e 1978”, afirma Mutinho, cuja melodia ganhou versos de Vínícius, com grande entusiasmo de Tom Jobim.

Uma homenagem às mulheres dá continuidade em Oi Lá, que fala sobre “a paciência e a tolerância delas, que seguravam sozinhas todos os problemas com a família, com a rotina doméstica, enquanto os maridos viajavam em turnês”, conta Mutinho. A canção também fez parte do LP Um Pouco de Ilusão, de 1980, além de figurar no único compacto duplo que Mutinho lançou em 1977.

A música seguinte surge de uma aventura acontecida em Buenos Aires, por volta de 1976, onde Vinicius de Moraes se apaixonou loucamente pela poetisa argentina Marta Santamaria, quase 40 anos mais nova que ele. Os conflitos de um amor ‘àquela hora’ levaram à composição deste bolero em parceria, Amigo Porteño, que leva a única letra de Vinicius escrita originalmente em espanhol.

Uma das poucas canções compostas, letra e música, pelo próprio Mutinho foi Meu Panamá, em homenagem ao amigo Vinicius de Moraes. Gravada em um LP italiano de Toquinho, em 1976, também fez parte do compacto duplo de Mutinho, e agora ganha nova versão com a participação de Georgiana de Moraes.

Um amor impossível é o tema de Sonho de Heloísa, valsa em parceria com o amigo Carlos Chagas, que também é responsável pelo texto de apresentação do disco. A marcha-rancho Azul de Maio, composta por Mutinho e gravada em 2011 por Imi Reeves e Bruno De La Rosa no CD The Changing Of Tides, em versão bilíngue ganha agora leitura do próprio autor.

O samba em parceria com Luiz Carlos Seixas e Toquinho em Numa Só Das Mãos fala de um relacionamento duradouro entre um casal, e das coisas que passaram juntos. Gravada anteriormente pelo próprio Toquinho no LP de Doce Vida, de 1981, ganha agora nova versão.

Para abrir as tacadas finais de um disco cheio de memórias e amores, João Palmeiro, cuja amizade com Mutinho tem mais de 60 anos, chega para mais uma parceria especial em Escapada, música letrada pela saudade que João sentia do amigo em Porto Alegre, cidade natal que o sobrinho de Lupicínio deixou para viver na capital paulista.

Com tantas homenagens no disco, coube a seu filho e parceiro, Márcio Mutalupi, o presente dedicado ao pai, em Estrela Dourada. “Esta canção conta a história de uma pessoa sonhadora que, escolada pelos percalços da vida, manteve seus pés no chão, agarrou-se à profissão e à paixão pela música, desde as noites de frio no sul do país até os palcos de todo o mundo, mantendo sua humildade e seu caráter”.

Turbilhão encerra o álbum intenso e cheio de histórias. “Vinicius estava muito preocupado com o que estava acontecendo em sua vida por conta da paixão avassaladora que teve por Marta Santamaria”, a moça da Argentina que aparece duas vezes neste trabalho. ”Ela rompeu um noivado na Argentina, brigou com a família e viajou para ficar ao lado do poeta. Ele, por sua vez, não decidia se corria o risco de um novo casamento (seria o oitavo). Fiz uma música para animá-lo e bati na porta de seu quarto, com o violão. Atendeu Martita, que disse que Vinicius estava dormindo. Ao atravessar o hall do hotel, vi Toquinho sentado no sofá e ele me disse: ‘O que você está fazendo a esta hora com o violão?’ Contei a ele a história e em pouco tempo a  música estava pronta, um de nossos maiores sucessos, o primeiro deles. Gravada no LP Vinicius e Toquinho, de 1975, finaliza Mutinho sobre seu primeiro disco, que recebe lançamento pela Kuarup.

O disco tem concepção artística e produção musical de Bruno De La Rosa, Marcos Alma e Wagner Amorosino, gravado entre 2012 e 2017, em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Participam Elifas Andreato na arte de capa, Mutinho voz e bateria, Silvia Góes piano, Fi Maróstica contrabaixo elétrico e acústico, Bruno De La Rosa violão, Nenê bateria (faixas 4 e 6), Rodrigo Digão Braz bateria (faixa 12), Guegué Medeiros percussão, Marcos Alma piano elétrico e ritmos, Salomão Soares piano elétrico (faixa 12), Alex Braga violino, Adriana Lombardi violoncelo, Gabriela Machado flautas em do e em sol, Bira Júnior clarinete, Diogo Duarte trumpete, Nina Ximenes, Rinah Souto e Wagner Amorosino coros, Toquinho voz (faixa 3), Miúcha voz (faixa 6), Georgiana de Moraes voz (faixa 9), Laércio de Freitas arranjos, Roberto Sion e Ivani Sabino agradecimentos especiais pelas colaborações