Contradições

“Boi é complexo”. Chega ao mercado, pela
Kuarup Discos, “Contradições”, álbum duplo, do
cantor, compositor, violonista, tocador de tambor
crioula, arquiteto e autor do célebre frevo
‘Gabriela’ Chico Maranhão. O disco composto por
22 faixas, sendo 11 no Con 1 e outras 11 no Con 2, foi
gravado em São Luiz do Maranhão, no Sonora
Estúdio, os arranjos, a produção e a direção musical
ficaram por conta de Luiz Júnior.
Trata-se do 10o. projeto da carreira deste artista, que
possuí mais dois discos de pesquisa e um livro sobre
a arquitetura de São Luís, chamado “Urbanidade do
sobrado”.
O atual trabalho é autoral, há somente uma parceria
com Chico Teixeira, na canção “Roça Brasil”. “Na
casa de Renato Teixeira, seu filho Chico me mostrou
uma melodia ao violão. Isso gerou em mim uma letra sobre o tema de uma casinha na roça.
Estava criada uma nova parceria”, explica Chico Maranhão.
Embora alguma das canções sejam claramente sambas, baiões, modinhas, frevos, ou uma
mistura de todos estes ritmos, o som na verdade foge um pouco desses padrões
estigmatizados. “Minha obra tem um aspecto que gostaria de chamar atenção: Sou muito eu e
meus sons, minhas canções, minhas ilusões, eu e meu violão! Acho que sou um criador de
sons ligados intrinsecamente as palavras da minha cultura, dentro de uma sintaxe
especificamente maranhense e seus maneirismos”, explica Chico Maranhão.
No repertório canções compostas ao longo de anos como o baião ‘Mandioca Pinga Sushi’, cuja
letra foi feita em resposta a um discurso feito por Caetano Veloso no Festival Internacional da
Canção, de 1968, no qual há um claro cerceamento a obra de Chico. Há também algumas
pérolas que enaltecem a sua veia arquitetônica como a poética ‘Os Telhados de São Luiz’ e o
choro ‘Sobrado’.
Chico conhecido por canções que trazem referências do bumba-meu-boi, alega que neste
projeto ele não esta presente explicitamente. Entretanto, traços deste folclore brasileiro estão
presentes em canções como ‘Pé de Vento’ e ‘Gritos’. “As vibrações do boi neste projeto estão
implícitas, menos perceptivas, intra-emoção! ou até se quisermos, de uma forma “complexa”,
que podemos dizer: um boi complexo (risos!!)”.
O que se pede refletir de forma mais imediata ao observar o conteúdo das letras é que se trata
de uma obra reivindicatória. “Este álbum clama por discutir questões mais históricas, de uma
visão mais profunda da trajetória do artista na música popular brasileira. Por isso seu título:
“CONTRADIÇÕES”. Há contradições de temas, de ritmos, de enfoques, etc.”
Sobre a questão de canções com temas tão diversos Chico explica que gosta de ter a mão
várias composições antes de entrar em estúdio e, geralmente, registra trinta ou mais músicas
de uma só vez e vai distribuindo em possíveis projetos. Por tal motivo as canções são tão
diversas, pois pertencem muitas vezes a períodos distintos da vida do artista. “Prefiro ficar
muito tempo compondo até satisfazer meus anseios. Vou costurando ponto a ponto momentos
internos, externos, situações do passado, do presente e talvez do amanhã”.
“Francisco Fuzetti, meu xará Chico, lá do Maranhão. Desde muito cedo me divertia com seus
versos, inusitados e bem humorados cheios de argumentos embutidos e mistérios numa
arquitetura poética moderna e melodias que nos tiram da obviedade, pude apreciar de perto.
Certo dia na Cantareira me chamou ate a sala, pediu para que eu desvendasse os acordes de
uma melodia que ele estava criando, mostrou um trechinho da letra e perguntou o que achava,

ainda criou outro verso rapidinho ali no papel, se levantou e saiu cantarolando para o quintal
fazer sua meditação e pegar umas plantinhas no meio do mato para se alimentar.
Daquelas almas raras que visitam de vez em quando este surrado planeta. Assim, nasceu
‘Roça Brasil’, que faz parte de seu novo álbum lançado pela Kuarup.”

Por Chico Teixeira