
Concerto de Fronteira
Gênero: ConcertoO novo álbum da Orquestra do Estado de Mato Grosso, regida pelo maestro Leandro Carvalho, gravado no Estúdio Inca, em Cuiabá, exibe peças de Hermínio Gimenez, José Asunción Flores, Astor Piazzolla e do próprio músico Yamandu Costa. O disco lançado pela gravadora Kuarup destaca El Canto de Mi Selva, escrita por Hermínio Gimenez na região de Concepción, no Paraguai, na época em que o compositor servia como soldado na Guerra do Chaco.
De José Asunción Flores, a Orquestra exibe Mburikao (nome de um arroio na região da Recoleta, em Buenos Aires). Flores disse certa vez que se inspirou num sonho, depois de uma noite de boemia. “Adormeci e sonhei que estava em meio a um bosque onde as plantas, os animais e o homem viviam em harmonia”, declarou.
Hermínio Gimenez e José Asunción Flores foram dois dos mais importantes compositores latino americanos de todos os tempos. Criaram uma linguagem própria, embasada na cultura popular da região central da América do Sul. Tiveram suas orquestras e nela incluíram instrumentos de cordas dedilhadas dando início ao conceito de “orquestra típica”. Navegaram pela música popular e erudita com igual competência e terminaram por criar uma “zona criativa” de difícil classificação.
Seguindo esta viagem pelo universo da música de fronteira, a Orquestra do Estado de Mato Grosso convidou o violonista gaúcho Yamandu Costa para compor e tocar uma nova peça em que revisitasse seu universo musical de origem. “É uma honra para todos nós da OEMT trabalhar com Yamandu, um músico que vai além do virtuosismo instrumental para criar uma linguagem própria, rica e diversa. O resultado é uma música profundamente conectada com a cultura do nosso povo e por isso mesmo, cada vez mais universal”, declara Leandro Carvalho.
Assim nasceu o Concerto Fronteira, em três movimentos, estreia que apresenta a riqueza melódica e rítmica do sul do Brasil. “Esta peça foi magistralmente orquestrada pela violonista Elodie Bouny, que acompanhou todas as gravações e deu uma importante contribuição para o resultado final. Faz parte ainda deste disco as peças Decarísimo, de Astor Piazzolla, Bachbaridade, Os Segredos da Vivência e Sarará, do próprio Yamandu Costa, todas com novas adaptações feitas pelo talentoso arranjador e compositor Paulo Aragão, especialmente para este trabalho”, explica o maestro Leandro Carvalho.
Concerto de Fronteira – por Yamandu Costa
“Quando Leandro Carvalho falou comigo sobre a ideia, topei meio assustado. Mas fomos em frente, afinal, o principal, que é ter a ideia do que fazer a gente já tinha, que era fazer um concerto de fronteira, uma música que há muito tempo eu tinha vontade de fazer. Que falasse dessa região, dessa mistura da fronteira que não é tão conhecida pelo Brasil. Essa cultura é riquíssima pelos países que nos abraçam, me criei nesse ambiente. Pensamos em uma composição que falasse e tivesse um sentimento ribeiro, da água doce, de um outro tipo de feeling, de sentir”, diz Yamandu.
O primeiro movimento, Fiesta, é um chamamé, música que se mostra como uma tradição muito forte nessa fronteira toda, do nordeste argentino, mas que cruza e chega ao Brasil. Ela é dedicada a Luiz Carlos Borges, acordeonista gaúcho que sempre fez muito essa música de fronteira, ligação entre a canção brasileira e argentina.
Já no segundo movimento, Coração de Camalote, trata-se de uma música do rio, lembra bastante a guarânia, que é paraguaia, mas com uma ideia harmônica bem brasileira. Dedicada a Juan Falú, violonista argentino que viveu no Brasil durante oito anos, e a partir de determinado momento, começou a compor obras com harmonia brasileira, que não fazem parte da música popular argentina.
Por fim, no terceiro movimento, Contrabando, há uma narrativa de um contrabando. A música começa com uma intenção de discussão entre os contrabandistas, que estão armando a travessia. Yamandu explica, de maneira figurativa, que esses contrabandistas pegam o barco, chegam até o outro lado brasileiro, mas quando eles voltam, são interceptados pela polícia ou algum contrabandista. “Não sei bem, isso fica meio aberto e ali se começa uma discussão, um tiroteio, eles começam a fugir com as mercadorias até conseguirem chegar ao outro lado, no Brasil. Situação que nos dá um pouco da ambiência, do que seria esse contrabando”, revela Yamandu.
Orquestra do Estado de Mato Grosso
Orquestra do Estado de Mato Grosso foi criada em 2005 numa iniciativa do governo do Estado de Mato Grosso em parceria com o Ministério da Cultura e empresas privadas de diversos segmentos. O grupo valoriza a cultura mato-grossense em diálogo com a música universal, definindo uma sonoridade singular, com repertórios e timbres únicos. A Orquestra do Estado de Mato Grosso integra a política cultural do governo do Estado de Mato Grosso, sendo reconhecida pelo Decreto Governamental n. 415, de 05 de julho de 2007, como Organização Social da Cultura e pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público.
Do ano de sua criação até 2014, a Orquestra do Estado de Mato Grosso, em dez temporadas de concertos ininterruptas, realizou mais de 500 apresentações divididas em três séries de concertos: Oficiais, Didáticos e Populares. Todos gratuitos ou a preços populares, para um público anual de aproximadamente 100 mil pessoas. Só no estado de Mato Grosso, as apresentações da OEMT já chegaram a 24 municípios. Pelo Brasil, são mais de 110 concertos em 22 estados brasileiros de todas as regiões, contemplando mais de 100 cidades de todo o país. Em 2006, a Orquestra foi convidada a participar, na Bolívia, do mais importante festival de música barroca e renascentista do mundo, o VI Festival Internacional “Misiones de Chiquitos”.
Em dez temporadas, apresentou 89 programas diferentes (repertórios), incluindo mais de uma centena de composições fundamentais da literatura universal, além de composições e arranjos encomendados especialmente para o grupo. Aqui vale destacar Concerto Para Viola de Cocho e Orquestra, escrita especialmente para Orquestra do Estado de Mato Grosso por Ernst Mahle; o grupo de composições baseado nos 26 prelúdios fundamentais do mineiro Flausino Vale; Festa da Santidade, peça em seis movimentos escrita por Danilo Guanais; Concerto Fronteira, escrita para OEMT por Yamandu Costa, com que gravou um disco. Já gravou quatro DVDs, dez CDs, recebeu 11 maestros de prestigio internacional, 35 solistas convidados, atendeu mais de 200 instituições de ensino da rede pública e privada de Cuiabá, Várzea Grande, Nobres e Diamantino, pela série de Concertos Didáticos, e se apresentou nos principais teatros do brasil: Teatro Auditório Ibirapuera (SP), Teatro Nacional Claudio Santoro (DF), Teatro Castro Alves (BA), Teatro Santa Roza (PB), Teatro Álvaro de Carvalho (SC), dentre outros. Em 2009, foi finalista do “XII Prêmio Carlos Gomes de Ópera e Música Erudita”, a mais importante premiação do gênero. Hoje, Cuiabá é uma das 16 cidades brasileiras a dispor de uma orquestra profissional em funcionamento regular.
A OEMT está sobe a direção artística e regência de um dos maiores talentos brasileiros da atualidade, o maestro Leandro Carvalho, reconhecido em 2008 pelo Anuário Viva Música (a mais importante publicação do ramo) como uma das dez personalidades de maior importância da década, no que diz respeito à música de concerto. Em 2014 a OEMT foi convidada a apresentar seu case de sucesso num dos mais relevantes encontros do setor, o Classical Next, realizado em Viena, na Áustria.
Leandro Carvalho, regente principal e diretor artístico da OEMT
Conhecido por sua vitalidade e abordagem singular de ampla variedade de repertórios, Leandro Carvalho é considerado um dos mais proeminentes maestros brasileiros da nova geração. Apontado como um dos dez artistas de maior importância na última década na música de orquestra no Brasil pela “Viva Música!”, uma das principais publicações do setor, Leandro é um dos fundadores da Orquestra do Estado de Mato Grosso e seu atual diretor artístico e regente principal. Em 2013 e 2014 fez residência artística (conducting fellowship) na prestigiada Philadelphia Orchestra, nos Estados Unidos, e de 2011 a 2013 foi regente assistente na Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro, quando teve a oportunidade de dirigir concertos com grandes solistas como Daniil Trifonov, Simone Dinnerstein, Lenine e Gilberto Gil.
Com a Orquestra de Mato Grosso, de 2005 a 2014, sob sua direção, foram apresentados aproximadamente 600 concertos, distribuídos em diferentes séries, em diversos municípios de Mato Grosso e do Brasil, com destaque para duas grandes turnês realizadas em 2008 quando a OEMT apresentou 162 concertos em 92 cidades de 22 estados brasileiros. Com a OEMT, Leandro Carvalho gravou 11 CDs e quatro DVDs com obras inéditas e de compositores consagrados, também com grandes instrumentistas como Yamandu Costa, Turibio Santos, Antonio Del Claro, Emmanuele Baldini, Roberto Correa, Pablo Agri, Carlos Corrales e Ivan Vilela entre outros. Esta discografia está sendo lançada pela Kuarup e a parceria com a OEMT também é novidade. Pela primeira vez uma gravadora será responsável pela distribuição dos lançamentos e do catálogo de obras da orquestra em lojas de todo o Brasil e venda digital.
Leandro Carvalho graduou-se em Música Erudita em São Paulo, fez pós-graduação em Regência Orquestral na Holanda e na Järvi Academy, na Estônia. Participou de festivais, na classe de regência, na Inglaterra e no Brasil (Campos do Jordão) e de master classes com os maestros Valery Gergiev e Kurt Masur. Nos Estados Unidos, desenvolveu-se como regente sob a orientação de Leonid Grin.
Como instrumentista gravou nove CDs, lançados no Brasil e exterior com destaque para os duos com Turíbio Santos e Baden Powell. Realizou concertos no Brasil e exterior em salas de grande prestigio como Royal Festival Hall em Londres. Seu trabalho como pesquisador apresenta uma visão singular da cultura brasileira, sintetizada na dissertação de mestrado “… e o estrepitoso zabumba põe tudo em alvoroço”, elaborada com a orientação do escritor Ariano Suassuna e apresentada no departamento de pós-graduação em História Social da Universidade Federal de Pernambuco.
Leandro Carvalho foi finalista da “Svetlanov International Conducting Competition” em Paris, com a ‘Orchestre Philharmonique de Radio France’, em junho de 2014. A partir de quinhentos e dez inscritos de mais de trinta países foram selecionados 18 participantes por um júri composto por alguns dos maiores nomes da atualidade como Valery Gergiev, Riccardo Muti, Zubin Mehta, Evgeny Kissin, Vladimir Ashkenazy e Jesús López-Cobos.
Músicas
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Concerto Fronteira: I. Fiesta
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: Yamandu Costa
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Concerto Fronteira: II. Coração de Camalote
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: Yamandu Costa
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Concerto Fronteira: III. Contrabando
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: Yamandu Costa
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O Segredo da Vivência & Sarará
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: Paulo César Pinheiro, Yamandu Costa
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El Canto de Mi Selva
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: Herminio Gimenez
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Decarísimo
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: Astor Piazzolla
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Mburicao
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: José Asuncion Flores
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Bachbaridade
Intérprete: Orquestra do Estado de Mato Grosso, Yamandu Costa Autoria: Yamandu Costa