Nascida em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense do estado do Rio de Janeiro, a cantora, compositora, berimbalista e ativista Zilá Lima, apelidada de “Vermelha” nas rodas de capoeira, é originária de família nordestina que migrou para o Rio, na década de 50, nos chamados paus de arara. Sua origem é resistência. Seus pais nasceram na área onde se localizou o maior e mais organizado refúgio de escravizados do Brasil, nas terras de Dandara, Zumbi e Ganga Zumba, o Quilombo dos Palmares. Sua mãe, nascida no Sítio Serra da Barriga, em União dos Palmares, foi a responsável por lhe despertar o amor e o respeito pelas causas do povo negro, o interesse pela sua história e suas manifestações. Seu pai, pernambucano, pedreiro e carpinteiro, lhe presenteou com o gosto pelas artes em geral, em especial pela música, tendo ele construído, com materiais de sobra de obras, os primeiros instrumentos musicais com que Zilá teve contato. Ela começou a compor ainda criança, a partir das histórias contadas por sua mãe a respeito do Quilombo. Tendo essas histórias como inspiração e incentivo, aos 12 anos entrou para a capoeira e ali começou uma relação que a conectou definitivamente com aquele Quilombo de seus primeiros anos.

Zilá afirma que a necessidade que sempre sentiu em servir como aliada na luta antirracista, pela reparação da escravidão, pela liberdade religiosa, pelo cumprimento da Lei 10.639/2003, foram a base de um sonho que se tornou o que ela considera missão: devolver, com a força da sua alma, o que foi roubado daqueles que foram sequestrados das nações africanas. A forma encontrada para isto foi com música. Uma música que evoca a história vivida por aquele povo, desde África, passando pela travessia atlântica, chegando aos dias atuais, em canções que, com suavidade melódica e letras imagéticas, fazem referência a acontecimentos, ao cotidiano, ao ideal de libertação, às manifestações culturais, à espiritualidade, a personagens importantes. Essa é a essência do álbum Cantando Memórias.

O projeto nasceu em 2016 no Arquivo Nacional, onde Zilá é servidora. A convite do Instituto de Pretos Novos – IPN Museu Memorial para uma apresentação em celebração ao aniversário de sua criação, reuniu suas músicas e com amigos também servidores, amigos da capoeira, das danças populares, do teatro, realizou apresentações no IPN e no AN, levando o público a refletir a respeito de uma história que a escola não contava. O nome do projeto faz referência à missão das duas instituições, assim como ao conteúdo das canções.

Em 2018 Zilá se associa ao Instituto Casa do Choro para se profissionalizar na Escola Portátil de Música, onde recebeu incentivos para levar o projeto adiante. Em parceria com Celsinho Silva, percussionista, professor da escola e atualmente seu produtor musical, ganhou o apoio de outros profissionais igualmente renomados, que acreditaram no projeto, a exemplo do premiado arranjador e músico Rogério Souza e os músicos João Camarero, Jorge Filho e João Lyra.

Em clima de união e entusiasmo dos músicos sai pela produtora e gravadora Kuarup o álbum Cantando Memórias, gravado no estúdio Araras, do lendário Sergio Vieira de Lima Neto. A capa é assinada pelo premiado designer gráfico e ilustrador Elifas Andreato marca a estreia de Zilá Lima que, aos 57 anos, entra no mercado fonográfico com um trabalho inédito, gestado desde sua infância, e aprimorando-se até hoje. Zilá compõe acompanhada do berimbau e suas canções são traduzidas em ritmos diversos como samba, samba de roda, ijexá, capoeira, jongo, baião, maxixe, choro, lundu, toada e outros. O álbum, com 12 músicas, todas assinadas por Zilá Lima, sendo duas com parceria, tem estratégia de lançamento de cinco singles, a iniciar-se em dezembro de 2022, tendo, o álbum completo, com previsão de lançamento para maio de 2023.

Reafirmando sua relevância artística, cultural, social, humana e educacional, o Cantando Memórias vem cantando e contando uma parte da nossa história, é forma de expressão da memória, é exaltação da ancestralidade, é referência e reverência aos povos bantos, iorubás, jejes e tantos mais.

Músicas

  1. Ô de Casa

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Bebê Kramer, Celsinho Silva, Rogério Souza

  2. Berimbau

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Paulino Dias, Rogério Souza

  3. Foi no Valongo

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Jefferson Lescowich, Rogério Souza

  4. Flor D'Água

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Saulo Ligo, Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Jorge Filho, João Camarero, Luis Barcelos, Rogério Souza

  5. Conceição Evaristo

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Eduardo Neves, Eduardo Silva, Jorge Filho, João Camarero, Rogério Souza

  6. Saudade

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Adriano Souza, Celsinho Silva, Guto Wirtti, Rogério Souza

  7. Eu Não Ando Sozinha

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Eduardo Neves, Eduardo Silva, Jorge Filho, João Camarero, Rogério Souza

  8. Deixa o Vento Passar

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Jorge Filho, João Camarero, Rogério Souza

  9. Jangadeiro

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Zilá Lima

  10. Nunca Se Deixe Desanimar

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Jorge Filho, João Camarero, Rogério Souza

  11. Se Eu For Embora

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Aquiles Moraes, Celsinho Silva, Jorge Filho, João Camarero, Marcos Esguleba, Rogério Souza

  12. Vou Voltar Pra Angola

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Netinho Albuquerque, Rogério Souza

  13. Mãe África

    Intérprete: Zilá Lima Autoria: Zilá Lima Participações: Celsinho Silva, Jefferson Lescowich, Rogério Souza