
Argumento – Canções de Sidney Miller (Ao Vivo)
Gênero: MPBAmiga de Sidney Miller (1945 – 1980), Joyce Moreno foi convidada pelo Instituto Moreira Salles para revisitar as 12 músicas do primeiro álbum do compositor, em apresentação da série Grandes Discos que ocorreu em abril de 2012. O LP saiu pelo selo Elenco no fim de 1967, após Sidney participar do III Festival de Música Popular Brasileira, defendendo A Estrada e o Violeiro ao lado de Nara Leão. Como o dueto era um dos grandes momentos da estreia fonográfica do artista, Joyce chamou Alfredo Del-Penho para acompanhá-la. O show dá origem ao CD Argumento (Canções de Sidney Miller), lançado agora pela gravadora Kuarup.
Poucos associam Sidney à autoria de clássicos como O Circo (“Vai, vai, vai, começar a brincadeira/Tem charanga tocando a noite inteira…”). Lançada por Nara naquele mesmo ano de 1967, a música tornou-se tema de abertura da novela À Sombra dos Laranjais (1977) na voz de Marília Barbosa. Também célebre, É Isso Aí, que Sidney deu para Doris Monteiro defender no Festival de Juiz de Fora em 1971, foi regravada por Paula Lima trinta anos depois e enche a pista em bailes de samba-rock e festas dedicadas à música brasileira.
Em 15 anos de carreira, Sidney foi polivalente, produzindo discos e dirigindo espetáculos, além de trabalhar no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e na Funarte, que mantém a Sala Funarte Sidney Miller na capital fluminense. Gravou apenas três LPs, mas Nara, Dóris, Quarteto em Cy, Paulinho da Viola e o MPB4 também se encarregaram de revelar músicas dele para o grande público. Mais recentemente, canções suas foram gravadas por Roberta Sá, Teresa Cristina e pelo grupo Casuarina. Com boa repercussão na cena teatral carioca, o musical Deixa a Dor por Minha Conta (2017), escrito por Hugo Sukman e Marcos França, teve como base o cancioneiro do artista.
O encontro de Joyce com Alfredo Del-Penho, representante do samba carioca contemporâneo que reverencia o compositor, mostra que a obra dele continua relevante para várias gerações. Alternando-se entre solos e duetos, a dupla passeia pelo repertório que Sidney construiu quando tinha apenas 22 anos, época em que era comparado a Chico Buarque pelas afinidades estéticas das canções dos dois e por terem Nara como principal intérprete. A influência do samba, a busca pelo diálogo com bambas de outrora expressa na máxima “Vá cantar um samba antigo pra entender o que há de novo” de Argumento (não confundir com a canção de mesmo nome de Paulinho da Viola) e a temática de músicas baseadas em cantigas de roda dão o tom da estreia de Sidney em disco.
Joyce e Alfredo homenageiam a dobradinha entre Sidney e Nara interpretando as duas canções que eles gravaram no LP de estreia do compositor: a ruralista A Estrada e o Violeiro – vencedora do prêmio de melhor letra do festival em que tinha concorrentes de peso como Domingo no Parque, de Gilberto Gil, e Alegria, Alegria, de Caetano Veloso – e Menina da Agulha, ambas com letras construídas como diálogos. Juntos, eles ainda interpretam Chorinho do Retrato e Passa, Passa, Gavião, inspirada em cantiga de roda, assim como Marré-De-Cy, que Joyce canta sozinha. Ela também interpreta O Circo e os sambas Maria Joana, Argumento, Meu Violão e Pede Passagem. Esta, Joyce havia gravado no álbum Passarinho Urbano (1975), versão que Sidney considerou a melhor de todas. Escritas por ótica masculina e boêmia, Minha Nega e Botequim Nº1 parecem feitas sob medida para a voz de Alfredo.
Depois de repassarem as 12 músicas do disco, Joyce e Alfredo ficaram livres para cantar o que quisessem. Decidiram fazer o que Joyce definiu como “baile do Sidney”, com pérolas que ele compôs posteriormente. Inédita por décadas, até ser gravada pelo Casuarina em 2007, Me Dá Um Dó é interpretada por Alfredo. Criada em meio ao flerte com o rock que gerou o álbum Línguas de Fogo (1974), a canção é prova de que Sidney jamais deixou de ter o samba como referência. Na sequência, Joyce transmite segurança na tristeza contemplativa de O Navegante. Inscrita no Festival de Juiz de Fora de 1972, foi gravada pelo MPB4. A versão do grupo vocal entrou na trilha sonora da primeira versão da novela Mulheres de Areia (1973), exibida pela TV Tupi.
Encerrando a apresentação, a dupla canta Nós, os Foliões, lançada por Paulinho da Viola em gravação irretocável de 1982, e, para animar, É Isso Aí. Enquanto pessoas da plateia choravam durante o show, Joyce fez o possível para segurar a emoção, especialmente ao ver a família de Sidney na primeira fila. Nos bastidores, a atriz e cantora Soraya Ravenle perguntou a ela: “O que este homem estaria fazendo agora?”. Nunca saberemos, mas é possível afirmar que a obra de Sidney vem bravamente resistindo ao tempo. O CD Argumento (Canções de Sidney Miller) é prova disso.
Renato Vieira
Músicas
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A Estrada e o Violeiro
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Marré-de-Cy
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Maria Joana
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Argumento
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Minha Nega
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Botequim Nº 1
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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O Circo
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Meu Violão
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Passa Passa, Gavião
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Chorinho do Retrato
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Menina da Agulha
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Pede Passagem
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Me Dá um Dó
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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O Navegante
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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Nós, Os Foliões
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller
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É Isso aí
Intérprete: Alfredo Del-Penho, Joyce Moreno Autoria: Sidney Miller